segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

IEF mineiro denuncia pressão contra ampliação do Parque Veredas do Peruaçu


JANUÁRIA - O engenheiro florestal e supervisor regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em Januária, Rinaldo José de Souza, denuncia excessos nas intervenções do deputado estadual Paulo Guedes (PT) e do ex-deputado Cleuber Carneiro no processo de consultas públicas que discutiu a proposta de ampliação da Unidade de Conservação Parque Estadual Veredas do Peruaçu. A tentativa de debate, que segundo Rinaldo ficou só nisso mesmo por conta dos ânimos exaltados, aconteceu no início do mês de dezembro e foi estabelecida no plano de metas para o setor ambiental do governo estadual.

O rio Peruaçu é um afluente do São Francisco. A região do entorno do rio abriga também o Parque Nacional Cavernas do Peruaçú, que tem mais de 140 cavernas catalogadas, a tribo indígena xakriabás, cuja reserva fica no municípo de São João das Missões, além de mais de 80 sítios arqueológicos mapeados por especialistas.

“As consultas públicas foram tumultuadas por fazendeiros e pelo ex-deputado Cleuber Carneiro, além do deputado estadual Paulo Guedes, em clara manifestação eleitoral ou na defesa de interesses empresariais”, acusa o representante do IEF. Para Rinaldo, a reação foi exagerada porque não era objetivo do órgão ambiental aprovar a ampliação de mais um parque estadual naquela região. “Nossa expectativa era a de colher propostas alternativas vindas dos representantes públicos e da população para que se fosse votada de forma democrática uma gestão ambiental sustentável para a região”, sustenta o engenheiro florestal do IEF.
O ciclo de debates antecede qualquer decisão sobre a ampliação de qualquer parque e a população dos municípios do entorno da unidade normalmente é chamada a opinar sobre o assunto, o que é uma garantia constitucional oferecida pelo Estado. No caso do Peruaçu, o caldo entornou e os funcionários do IEF foram hostilizados, no que teria sido, de acordo com o supervisor Rinaldo, resultado do trabalho ostensivo contra a medida realizado pelo deputado Guedes e o empresário Cleuber Carneiro, que seria proprietário rural na região de abrangência do parque. Na audiência pública realizada em Miravânia, um dos municípios que seriam afetados com a ampliação da área de preservação, o ex-deputado teria tomado o microfone à força das mãos do supervisor do IEF e feito um inflamado discurso contra a pretenção do órgão ambiental.
O engenheiro Rinaldo diz que a notícia veiculada pelo jornal “A Voz do Povo”, de Januária, com o título de “IEF - Um trabalho desastrado”, teria sido uma tentativa de denegrir a imagem do órgão ambiental e um ataque do lobby dos fazendeiros que não querem a continuidade da implantação da unidade de preservação ambiental. “Fomos vítimas de desrespeito público, mas não somente os servidores do IEF e também tantos trabalhadores e cidadãos da região que dedicam suas vidas ao trabalho diário em prol do meio ambiente e diretamente ao ser humano que mora na região e contribui para o seu desenvolvimento”, diz Rinaldo.

Sem lei

Os argumentos utilizados no ataque ao IEF e seus servidores empobrece o debate e desqualifica seus autores. O ex-deputado Cleuber Carneiro e o deputado Paulo Guedes teriam defendido em uma dessas audiências o banimento do Instituto Estadual de Florestas da região e acusado os agentes públicos de não trabalhar e apenas circular na região em picapes de luxo. “Não se pode banir o Estado do próprio Estado”, diz o supervisor do IEF com o argumento de que isso significaria o caos para o setor ambiental.

“A saída do IEF representa o império da força, da lei do mais forte nesta região, que ficaria órfã das políticas florestais e das diretrizes legais para suas atividades de exploração florestal, manejo, meio ambiente e conservação de recursos ambientais, hoje tão escassos em qualquer lugar do planeta, além de desempregar cerca de 200 pessoas servidoras do IEF nos trinta e três municípios que atendemos”, sustenta o servidor.

O engenheiro também refuta a acusação de que o IEF é o operador daquilo que o deputado Paulo Guedes chama de indústria de multas. O parlamentar tentou, inclusive, instalar uma CPI na Assembleia mineira para investigar o assunto mas o assunto foi barrado pela base aliada do governador Aécio Neves. “Impedir o IEF de punir os agressores do meio ambiente é o mesmo que louvar a indústria de crimes ambientais da qual, provavelmente, quem a defende se beneficia, direta ou indiretamente”, acusa Rinaldo. Nas críticas ao trabalho dos agentes públicos da área ambiental não faltaram nem mesmo o registro de que se deslocam pela região em veículos novos e caros.

A propósito do tema, as câmaras municipais de Bonito de Minas e de Cônego Marinho apresentaram moção de recusa para a ampliação da unidade de preservação em territórios dos seus respectivos municípios. O prefeito de Miravânia, Elpídio Mota, também se declarou contra a proposta de ampliação da APA do Vale do Peruaçu.
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