Paulo Guedes ao lado do ministro Walfrido Mares Guia e do vice-presidente da República, José de Alencar, na comemoração da vitória em outubro de 2006: euforia cede espaço à realidade Há um ano o deputado Paulo Guedes (PT) flutuava na nuvem benfazeja que envolve os vitoriosos.
O ex-vereador por Manga em três mandatos acabava de conquistar o passaporte para a Assembléia Legislativa de Minas Gerais após campanha eleitoral memorável e recheada de incertezas. Sua excelência ainda sorvia, numa espécie de torpor e incredulidade, o líquido suave da generosa taça do triunfo. Fora uma aposta ousada, coroada com os louros da vitória que estão mais à mão daqueles que se atiram adiante sem medir os riscos inerentes à empreitada.
Fosse outro o final daquela jornada, Paulo Guedes mereceria, sabe-se lá, uma notinha de pé de página a título de registro do seu fracasso. A crônica dos vencedores é menos madrasta.
Contra todas as expectativas, o petista passara um trator por cima de nomes tradicionais da política regional. Mandato zero quilômetro na mão, Guedes vivia naquele início de outubro de 2006 o período de lua-de-mel com o eleitorado. Trata-se daquela fase em que tudo são expectativas e as promessas têm todo o sentido do mundo, ainda que a realidade aponte para outra direção. É o caso do asfaltamento da BR-135 no trecho que liga o povoado de Rancharia, no município de Itacarambi, até a divisa com o Estado da Bahia nas proximidades da cidade de Côcos - não sem antes tirar o município limítrofe de Montalvânia do isolamento que o acompanha desde a criação em meados do século passado. Pelo menos na região extremo norte de Minas, de onde é originário, Guedes hipotecou sua vitória à realização da obra do asfalto da BR-135.
Não é pequeno o número dos que se arvoram à paternidade desse asfalto. São 40 anos de resignada espera por parte do nosso sertanejo - sempre crédulo de que as coisas são como são não pela mísera condição do gênero humano, mas pelos desígnios sempre insondáveis do Padre Eterno. O fato concreto é que um ano após a eleição do petista Guedes, o asfalto da BR-135 até Montalvânia está onde sempre esteve nas últimas quatro décadas: na condição de simples promessa, de miragem sujeita à boa vontade dos "homens lá de cima".
Ainda depende das vontades e humores dessa gente que controla os números orçamentários, dos que usam e abusam da esperta malandragem desses tempos ditos modernos em que governantes se amparam em recursos de marketing e propaganda para criar uma realidade de comercial de televisão sem lastro com a vida real. Resta a espera resignada. Mas há que se concordar com a constatação a seguir: nunca antes as circunstâncias foram tão favoráveis à execução da obra.
Paulo Guedes tem como parceiro e mentor político o também petista e deputado federal Virgílio Guimarães, um especialista com trânsito nos complicados labirintos do orçamento federal. Dinheiro há, diz o deputado Guedes. Está tudo previsto no PAC, sigla que promete acabar com os gargalos que atrapalham o andar da carruagem Brasil.
O tempo, contudo, segue sua marcha de caminhar e nada acontece, As chuvas estão chegando, daqui a pouco teremos o verão e a repetição das velhas cenas em que o morador de Montalvânia fica isolado do resto do mundo. O sertanejo, na sua simplória perspectiva de mundo, ainda há de preferir a chuva, que atrasa, mas não falta.
O asfalto fica mais uma vez debitado na conta da esperança, que é prima-irmã da perseverança e a última a fenecer. Não se pode dizer que a dupla Guedes & Guimarães tenha se omitido na promessa que tem o primeiro como signatário e o segundo como avalista.
Eles tentaram em meados do mês de agosto, durante visita à sede da Superintendência Regional do DNIT, em Minas Gerais, convencer aquela autarquia responsável pelas rodovias federais a agilizar o processo de homologação das obras de asfaltamento da BR-135 que tratamos mais acima. Eu mesmo testemunhei visita do deputado estadual na sede do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) aqui em Brasília para tratar do assunto.
As obras poderiam começar imediatamente caso o DNIT aceitasse fazer a adjudicação [decisão judicial que declara que algo pertence ou passa a ter novo responsável] de uma antiga licitação para execução da obra realizada pelo governo do Estado de Minas no período em que a estrada esteve sob a administração do governo mineiro. A obra não foi realizada naquela ocasião por falta de recursos disponíveis no orçamento estadual.
O tempo passa o asfalto não chega. O calendário agora impõe sua urgência ao mundo político. Em outubro sairão das urnas os novos prefeitos e vereadores dos municípios. Paulo Guedes, que não mede riscos e apostas, sonha colocar correligionários seus nas prefeituras de Montalvânia, Manga, Itacarambi, Januária e São Francisco - neste último município tenta reconduzir o padre José Antônio ao cargo de prefeito, como forma de retribuir a votação recorde recebida no ano passado.
Guedes planeja ainda montar uma bem sortida base de vereadores leais à sua cartilha entre os diversos partidos na região - estratégia que vai garantir tempos mais amenos quando chegar o momento da sua própria reeleição para a Assembléia em 2010.
A situação do petista Paulo Guedes ainda é tranqüila na região, mas a abertura da temporada eleitoral promete exacerbar os questionamentos e as cobranças por parte do eleitorado - com a óbvia colaboração dos candidatos adversários. Alimentar o otimismo no seu entorno é pré-requisito para o político que deseja permanecer como tal. E Paulo Guedes é pródigo no assunto, o que é legítimo. No início deste ano, quando visitei Manga em férias, pude presenciar uma espécie de comício em que ele e Virgílio agradeciam ao eleitorado a votação recebida alguns meses antes. Naquela ocasião, Virgílio fez uma promessa pública de que o asfalto chegaria e estipulou prazo: no máximo um ano. Discursos de palanques são palavras atiradas ao vento, mas manda o bom-senso que não se estipule prazos para decisões que não estão inteiramente sobre o controle de quem segura o microfone.
A fatura das promessas de campanha será apresentada ao deputado e aí será necessário desempacar o PAC e toda sorte de obstáculos que impeçam a massa asfáltica de riscar de preto o chão do lado esquerdo do rio São Francisco. Escaldado, o eleitor da microrregião diretamente beneficiada com o asfaltamento da BR-135 não aceita mais assinar o cheque em branco como é de praxe a cada rodada eleitoral. Quer mais ação e menos discurso.
O asfalto que vai passar em Manga com destino a Montalvânia tem muitos padrinhos, alguns deles ilustres. Caso do vice-presidente da República, José de Alencar (PR) e do ministro Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais), na foto lá no alto juntos com Paulo Guedes na carreata da vitória de um ano atrás, além, claro, de todo político com ou sem mandato com algum tipo de atuação na região. Se sair, o asfalto é o filho que todo costuma político reclamar paternidade. Em caso contrário, a fatura é de quem mais se arriscou em sua defesa. É o dilema que Paulo Guedes e Virgílio Guimarães têm pela frente. Fonte: Blog Luís Cláudio Guedes
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